TAPERA ABANDONADA
Tapera que já foi casa, casa que hoje é tapera
Como é triste relembrar aquilo que você era
Hoje o outono da vida ontem a flor da primavera
Paredes esburacadas vestidas por trepadeiras
Pousada de lagartixa sua hóspede derradeira
Onde só a luz da lua é a sua companheira
Sua porta escancarada roída pelo cupim
Sem ferrolho, sem soleira, rodeada de capim
Casa minha que fizeste? Pra o tempo deixa-la assim
Tapera velha permita, peço encarecidamente
Quero matar a saudade que me aflige amargamente
Conceda-me a emoção de transpor o seu batente
Quero ver a camarinha humilde onde fui nascido
Ver os torrões que ouviram o meu primeiro vagido
E de papai e mamãe ouviram o último gemido
Fechar meus olhos e ver mamãe me amamentando
Papai com a mão calosa minha cabeça afagando
Na presença de Jesus a nós três abençoando.
Percorrer as outras salas onde eu brincava e corria
Na inocência dos anjos puro como a luz do dia
Pleno de felicidade é fugaz de amor e alegria.
Dê minha baladeira, onde está meu currupi?
Meu cavalinho de pau ? Que era o rei do jequí
E o resto dos meus brinquedos? Que eu tinha deixado aquí?
Onde está meus “currulepos”? As botinhas? Meu chapéu?
Minhas vaquinhas de osso? Meu carrinho de carretel?
Na certa os anjos levaram para brincar lá no céu
Adeus porta da cozinha, adeus fogão apagado
Adeus pilão velho inútil lá num canto desprezado
Este quadro de tristeza levo nos olhos gravados
Chamei ninguém respondeu, gritei ninguém me ouviu
Não existe mais vida aqui…Tudo que era bom sumiu
Somente Deus é quem sabe o que o meu coração sentiu
De ti vou me despedir, talvez u não volte mais
Juntos cairemos um dia, nossa existência é fugaz
Tuas paredes tem fim…E eu estou entre os mortais.
Vicente das Chagas Candeia