Com o programa “Cantos & Contos” o Golias de nome Celso Soares luta em defesa da cultura popular nordestina
Ricardo Anísio
Certa vez conversando com Geraldo Vandré ele me chamou a atenção para que eu “nunca deixasse de perceber as coisas aparentemente pequenas”. Segundo o co-autor de “Disparada” estaria nelas a grandeza da arte. Nossa conversa teve como mote a poesia de Pinto do Monteiro, paraibano genial. Pois bem, eu agora chamo a atenção dos senhores para Celso Soares. Sim, mas quem é esse cidadão? É um abnegado Don Quixote contemporâneo lutando contra os moinhos da alienação.
Celso tem dois Sancho Pança, que são Raimundo Nonato e Nonato Costa, ou Os Nonatos, como assinam suas carreiras artísticas. Mas é para Celso que quero chamar a atenção. O programa “Cantos & Contos” é uma dessas raridades perdidas pelo Brasil consumista, Brasil dos arremedos, dos alinhavos. Um Brasil que de tão grande perdeu-se de vista. Brasil sem retrovisor e sem espelho.
“Cantos & Contos” vai ao ar todas as semanas (agora pela TV Correio) e seus shows de gravação têm se constituído em shows memoráveis, aonde a cultura nordestina encontra plumas para se aninhar. Por lá passaram quase todas as grandes figuras da música e da poesia desse Nordeste nem tão independente como queriam os cantadores Ivanildo Vilanova e Severino Feitosa.
Para Celso Soares o Brasil é o Nordeste. E não o venham acusar de xenófobo. Ele apenas quer fazer carinhos em sua aldeia, e sua aldeia é esse Nordeste de riqueza cultural inesgotável e sem parelha. Os matizes culturais deste país brotaram no Nordeste. Até para quem pensa que o Samba é nosso estandarte de exportação, lembramos que segundo o mestre Osvaldinho da Cuíca o Samba nasceu no Nordeste, nos terreiros de Maracatu, nos Cocos de Roda.
Celso Soares é embaixador deste Brasil. Mas, principalmente, desse Nordeste. O Nordeste do baião, do xaxado, do coco, da ciranda, do rojão, do forrobodó. O Nordeste de Luiz Gonzaga e de Sivuca, de Zé Ramalho e Zé do Norte, de José Siqueira e de Elba Ramalho, de Chico César e Genival Cassiano, de Geraldo Vandré e de Orlando Tejo, de Roberta Miranda e de Canhoto da Paraíba, de Vital Farias e de Ariano Suassuna, de Augusto dos Anjos e de José Lins do Rego, de Genival Macedo e de Antônio Barros & Cecéu, de José Américo de Almeida e de Pedro Américo.
Quando tentarmos beber na fonte cristalina e sagrada, bebamos no “Cantos & Contos”. Por ali têm passado alguns desses soldados da arte, que empunham violas de grosso calibre, que agitam bandeiras alvas de algodão, que reverberam o matraquear dos tempos em que homem valente era homem armado. Desarmemos, pois, nossos corações. Desafivelemos o vício midiático que elege farsantes como heróis!
Ricardo Anísio é jornalista, poeta e escritor