Nesta quarta-feira, 17 de setembro, tem gravação do programa Cantos & Contos no Bessa Grill, a partir das 19h30, com a participação de Irah Caldeira e Tivas Miguel. A entrada é gratuita para o programa que é apresentado pela dupla Os Nonatos.
Tivas Miguel
Quando Tivas deixou a pequena Juripiranga, interior da Paraíba, rumo à capital paulista, no início dos anos 80, trazia na bagagem o grande sonho de vencer em um mercado que sempre foi muito disputado: o da música.
O caminho foi parecido com o de tantos outros que tentaram a sorte cantando na noite, um trabalho que não era muitas vezes reconhecido como deveria, porém trouxe um aprendizado que lhe serviu de base e valeu contatos com pessoas que puderam abrir portas importantes do mercado fonográfico.
Nessa época, em que a música sertaneja passava por uma grande transição, deixando um pouco a característica mais “caipira” em prol de um romantismo maior e arranjos que ousavam com o implemento da guitarra e teclados, Tivas colheu os primeiros frutos de seu esforço, graças a um talento inato na arte de compor. A canção “Fio de Cabelo”, de Chitãozinho & Xororó, abria um novo horizonte nas rádios do Brasil, e nomes como João Mineiro & Marciano e Léo Canhoto & Robertinho eram sucesso de vendagem. Entendendo plenamente os novos ares do mercado, Tivas não demorou a emplacar o seu primeiro grande sucesso, “Eu Te Preciso”, escolhida como música de trabalho de um LP lançado por Matogrosso & Mathias. E era apenas o começo de uma trajetória vitoriosa como compositor.
Em pouco tempo, Tivas já ganhava o reconhecimento dos grandes intérpretes e colecionava trabalhos com nomes como Jair Rodrigues, Chitãozinho & Xororó, Sérgio Reis e João Mineiro & Marciano. Pouco a pouco foi conquistando o respeito e se tornando um dos autores mais requisitados do país. Em paralelo ao trabalho de compositor, Tivas fechou um contrato com a gravadora Continental e lançou seu primeiro álbum. O sucesso, já alcançado nas letras assinadas por ele, foi repetido como intérprete. Tivas ganhou o cobiçado “Prêmio Sharp”, atual “Prêmio da Música Brasileira”, na categoria “Revelação da Canção Popular”.
A premiação o tornou ainda mais conhecido, e muitos intérpretes já o procuravam para solicitar as suas letras. Nos anos seguintes, Tivas já participava de um seleto grupo de compositores _ Carlos Randall, Carlos Colla, Danimar, César Augusto, Piska, Joel Marques, Elias Muniz, Waldir Luz e Fátima Leão, entre outros _ que teria seu nome escrito na história da música brasileira.
O ecletismo na criação, um de seus grandes trunfos, fica claro na relação de cantores que gravaram suas obras. Ivete Sangalo, Manolo Otero, Raimundo Fagner, Reginaldo Rossi, Banda Calypso, Originais do Samba, Demônios da Garoa, Gilliard, Wanessa e Sandy & Junior são exemplos disso. Essa versatilidade, tão escassa no mercado, despertaria, em meados dos anos 90, a admiração do saudoso Marcelo Fromer, guitarrista e um dos líderes da banda de pop-rock Titãs, um dos maiores sucessos daquele momento.
Fromer, que também atuava como produtor musical, fez questão de assinar a produção do segundo álbum de Tivas, agora pela Warner. O disco, elogiado pela crítica, também recebeu indicação ao “Prêmio Sharp” daquele ano. Entre as canções, composições obrigatórias de Tivas e inéditas assinadas por Marcelo Fromer, Paulo Miklos, Arnaldo Antunes e Sérgio Britto.
Apesar da versatilidade presente em sua obra, é inegável a importância e o peso da música sertaneja na trajetória de compositor e intérprete. Das mais de 700 canções gravadas, cerca de 500 têm como intérpretes cantores e duplas sertanejas. É difícil encontrar um nome de relevância no cenário que não tenha gravado ao menos uma obra de Tivas. Só com Zezé di Camargo & Luciano, umas das duplas mais importantes e aclamadas do segmento, são mais de 30 canções. Chitãozinho & Xororó, João Paulo & Daniel (depois Daniel em fase solo), Bruno & Marrone, Leonardo, Rick & Renner, Cezar & Paulinho, Ataíde & Alexandre, Chrystian & Ralf, Edson & Hudson, Roberta Miranda, Felipe & Falcão, César Menotti & Fabiano, Chico Rey & Paraná, Cleyton & Camargo, Dalvan e Cristiano Araújo são alguns dos que se renderam ao seu talento.
A confiança e reconhecimento são tamanhos, que no atual trabalho de Zezé di Camargo & Luciano, “Teorias”, um EP com cinco canções, duas delas são assinadas por Tivas: “Anormal” e “O Tempo é de Nós Dois”. A parceria, de longa data, já rendeu inúmeros sucessos. Entre várias canções que viraram temas de novelas, em emissoras como Rede Globo e Record, um dos destaques é na novela “América”, um dos marcos da teledramaturgia brasileira. “Fera Mansa” foi interpretada com maestria pelos irmãos Camargo.
E a música realmente corre nas veias de Tivas, que se orgulha de ter sido tema de tese de faculdade, em trabalho que analisava a importância do autor na fase de transição da música sertaneja, já citada aqui. Há alguns anos, ele comanda uma editora e um estúdio na capital paulista, onde produz seus próprios trabalhos e de outros intérpretes.
Entre novas composições e o dia a dia no estúdio, ele pretende voos mais altos em 2014, voltando a apostar em sua qualidade como intérprete. O ano mal começou e Tivas Miguel _ nome que passou a assinar como cantor _ segue a tendência de nomes como Roberto Carlos e Zezé di Camargo & Luciano e lança seu primeiro EP, com duas canções inéditas.
Seu novo trabalho, produção de Tivas e Emmanuel, que já está sendo distribuído em rádios de todo o país, mais uma vez vem despertando elogios de quem conhece música. As inéditas “Então Pra Que Sofrer” e “Vamos Fazer Diferente” são apenas uma amostra do que está por vir neste ano.
Tivas Miguel ainda tem nos planos um trabalho completo, com regravações de alguns de seus grandes sucessos e inéditas. Um álbum que certamente comprovará a qualidade de um compositor e intérprete que ganhou experiência e reconhecimento ao longo do tempo, sem perder a essência e humildade do jovem que deixou Juripiranga há mais de três décadas em busca de seus objetivos.
Irah Caldeira
A caminhada de Irah Caldeira refaz em sentido histórico o mesmo percurso do Rio São Francisco em sua trajetória em direção ao mar. Nascida em Minas Gerais, iniciou sua carreira como cantora na década de 90 e tomada pelo sentimento de nordestinidade marcante em sua personalidade, decide “viajar” pelo norte-nordeste pesquisando e aprendendo vários ritmos folclóricos e típicos do Maranhão, Pará e Bahia, para definitivamente escolher Pernambuco, fixar residência e desenvolver um trabalho musical centrado na cultura popular nordestina.
Obteve grande respeito da crítica especializada pela forma com que interpreta as canções, com espontaneidade, técnica e também pela qualidade com que seleciona as canções que compõem seu repertório.
Dentre os compositores que tiveram músicas gravadas por Irah Caldeira estão Petrúcio Amorim, Zé Marcolino, Maria Dapaz, Accioly Neto, Fátima Marcolino, Anchieta Dali, Maciel Melo e tantos outros. Com essa característica, tem quatro CD´s gravados, que são o “Mistura Brasil” – 1991, “Canto do Rouxinol” – 2001, “Irah Caldeira Canta Maciel Melo” – 2004, “Entre o Calango e o Baião” – 2006 e o Irah Caldeira & Banda (ao vivo) – 2007.
Em seus CD´s, teve participações de Dominguinhos, Arlindo dos Oito Baixos, Terezinha do Acordeon, Maciel Melo, Beto do Bandolim e dos repentistas Rogério Meneses e Raimundo Caetano. Irah Caldeira tem alcançando o reconhecimento público e de crítica, como uma das maiores expressões em ascensão na música popular nordestina.
Teve participações em mais de 30 CD´s de outros artistas como exemplo: Paulo Matricó, Socorro Lira, Lourdinha Oliveira, Karolinas com K, José Airton, Maciel Melo, Caxiado, Ribeiro Filho, Banda Currupio, Território Nordestino, Forroboxote e projetos especiais como o “Mulheres Cantadeiras de uma Nação chamada Nordeste”, “Valsas Pernambucanas”, “Pedra de Amolar” (da obra de Zé Marcolino), “Recados” (da obra de Rui de Morais e Silva), “Alma Sanfônica”, etc.
Com uma carreira artística consolidada em Pernambuco, Irah segue a mesma estética musical que nos presenteou com o canto de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês, Dominguinhos e outros tantos que perpetuaram o autêntico canto sertanejo em forma de xote, baião, côco, xaxado, forró e toadas, espalhando para todo Brasil, poesia e beleza em forma de canção.